domingo, 18 de março de 2012

O que é ser oficial de justiça e mulher - Fonte InfoJus Brasil

Artigo - O que é ser oficial de justiça e mulher

Por Mari Rockenbach Ribeiro

Quando me apresentei para trabalhar numa vara no interior de Mato Grosso, como oficial de justiça, tive uma recepção singular. A juíza presidente, ao invés do esperado “seja bem-vinda”, sem me dirigir uma palavra, pegou o telefone e ligou para o Recursos Humanos do Tribunal perguntando, à minha frente, “Vocês me mandaram uma mulher?”. Comecei a argumentar sobre a minha determinação e capacidade, mas, só com alguns meses de trabalho consegui demonstrar que seria tão eficiente quanto um homem. Também, de certa maneira, entendi um pouco a apreensão da magistrada. A jurisdição abrangia 20 municípios, com extensão maior que a dos estados de Santa Catarina e Sergipe somados. A área rural abrangia garimpos, regiões de grilagens, posses, reservas indígenas, indo do Pantanal à Amazônia. Eu era o total do efetivo de oficiais de justiça daquela vara do trabalho, e, não contaria com motorista, segurança, ou qualquer companhia para cumprir grandes quantidades de mandados, nos lugares mais diversos da região.

O cumprimento de diligências também nos coloca diante de pessoas que buscam se valer da sensibilidade e fragilidade da mulher, que acreditam que podem subestimar nossa força ou usar de ameaças, mas, acabam tendo que entender que nada disso resolve.

Percebo que as mulheres que enfrentaram o desafio de serem oficiais de justiça avaliadoras em Mato Grosso conquistaram um espaço, se colocaram numa posição de respeito através da competência demonstrada. De fato, há certo preconceito quanto à capacidade da mulher para certas profissões, que são árduas, requerem coragem, pulso firme e até sacrifício físico, como dirigir por diversas horas por dia, trocar pneu, caminhar muito, esperar, acordar muito cedo ou ir dormir muito tarde para poder encontrar um destinatário de um mandado, tomar sol em frente ao portão de uma casa, tomar chuva...

O TRT da 23.ª Região, desde meados de 2011, tem novas normas para a atuação dos oficiais de justiça, que visam minimizar os riscos dessa profissão. Uma delas, que gostaria de mencionar, é a possibilidade de acompanhamento por agente de segurança que nos conduz e dá segurança em diligências que apresentam maiores riscos, como em zona rural, à noite, em penhoras de boca de caixa, entre outras. É uma reivindicação de todos os colegas, mas, principalmente das colegas mulheres, que se viam excessivamente expostas aos perigos adentrando em estabelecimentos noturnos, dirigindo sozinhas em estradas vicinais, sem contar com socorro nos imprevistos.

* Mari Rockenbach Ribeiro é Oficiala de Justiça e ex-presidenta da Assojaf - Associação dos Oficiais de Justiça Avaliadores Federais no Estado de Mato Grosso.

Fonte: Sindijufe-MT

http://infojusbrasil.blogspot.com.br/2012/03/artigo-o-que-e-ser-oficial-de-justica-e.html

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