O dia-a-dia dos trabalhadores de hoje é bastante diferente do século passado. A automação e as tecnologias de informação reconfiguraram o ambiente de trabalho ao possibilitarem um volume maior de produção em um tempo cada vez menor, não só na iniciativa privada como também no serviço público. As novas interações com o ofício e as implicações na vida do trabalhador fizeram com que viessem à tona estudos voltados para o ambiente de trabalho.
A ergonomia surgiu no período da 2ª Guerra Mundial e, a partir daí, desenvolveu correntes que são aplicadas e melhoradas com o passar dos anos. A percepção das organizações e instituições em fazer uso dessas teorias para melhorar a produção e criar um ambiente saudável para o trabalho é algo relativamente novo, mas que conquista cada vez mais espaço.
O professor da Universidade de Brasília (UnB), pós-doutor em ergonomia aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho, Mário César Ferreira, destaca quatro fatores críticos no ambiente de trabalho: condições de trabalho (infra-estrutura), organização (rotina), relações sócio-profissionais (interação social) e reconhecimento e crescimento profissional (carreira).
Para eliminá-los ou atenuá-los, o professor indica a elaboração de uma política e um programa de qualidade de vida. “Essa política deve ser ancorada no ponto de vista dos servidores. Garantindo mais conforto para que eles possam realizar de modo mais adequado o trabalho. Assim, atendem à missão da organização e à sociedade, porque os usuários do serviço judiciário querem um atendimento rápido, com qualidade e satisfatório”, ressalta.
Diagnosticadas as fontes de mal-estar, é preciso desenhar medidas e ações a curto, médio e longo prazo.
Iniciativas como essa já podem ser observadas na Justiça do Trabalho. O TRT da 13ª Região, por exemplo, elaborou um planejamento estratégico com o objetivo de propiciar um ambiente de trabalho saudável aos seus servidores. “Os servidores se mantêm agora mais tempo em contato direto com os computadores, tendo em vista a extinção da fase de manuseio do processo de papel. Este fato mereceu atenção e cuidados de prevenção ao adoecimento no trabalho por parte do Tribunal”, revela o diretor da Secretaria de Gestão de Pessoas, Carlos Alberto Vieira Melo.
O diretor conta que o programa do Regional foi dividido em várias ações que, até 2014, devem atingir 90% de satisfação dos servidores em relação as condições de trabalho. A meta leva em consideração a diminuição de adoecimento e absenteísmo, a satisfação, o bem-estar, a prevenção de doenças e a preparação do servidor para o processo totalmente eletrônico.
O TRT da 7ª Região, há cinco anos, colocou em prática o programa ‘Saúde em Pauta’ com atividades relacionadas ao bem-estar dos servidores. Em 2010, ações voltadas para ergonomia e fisioterapia do trabalho passaram a integrar o programa. Responsável pela elaboração das atividades, a fisioterapeuta Patricia Mota destaca que as principais queixas dos servidores estão relacionadas à inadequação do posto de trabalho. “As reclamações são especialmente quanto ao mobiliário (cadeiras e mesas) e à carga de trabalho, levando à sobrecarga mental e física”, exemplifica.
Patricia revela que muitos servidores se afastam por motivo de doenças desenvolvidas pelas lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER e DORT). “Em 2009, 124 licenças (aproximadamente 8% do total) foram pedidas em decorrência dessa categoria de doenças, totalizando uma média de oito dias de absenteísmo no trabalho por cada licença concedida”, completa.
Para que não tenha mais resultados negativos, como gastos com um trabalhador que não está produzindo, sobrecarga para outros servidores, perda de produtividade e qualidade nos serviços oferecidos, está sendo realizada uma análise sistêmica dos postos de trabalho no TRT. “O estudo avaliará aspectos como o mobiliário, equipamentos, organização e a avaliação da postura no trabalho. Também estamos realizando um questionário com os servidores”, destaca.
A partir dos resultados, a fisioterapeuta poderá mapear as áreas com inadequações ergonômicas e realizar abordagens específicas, como análises individuais dos postos de trabalho, palestras, treinamentos e orientações.
As ações implementadas pelos Tribunais buscam o que o professor Mário Cesar salienta: “Uma vez diagnosticadas as fontes de mal-estar no trabalho, é preciso se desenhar medidas, ações a curto, médio e longo prazo para atacar as raízes dos problemas e monitorar os efeitos dessas ações”.
O estudioso ressalta ainda que a ideia de que a implantação de um programa de qualidade de vida no trabalho é cara e onerosa nem sempre é real. Segundo ele, é possível implementá-lo sem grandes custos desde que seja feito um planejamento consistente com uma equipe preparada para isso.
Principais queixas:
* Exclusão no processo de tomada de decisões;
* Mudanças feitas de forma autoritária;
* Condições inadequadas;
* Normas incompatíveis com a realização do trabalho;
* Assédio moral;
* Violência psicológica;
* Não reconhecimento;
* Empecilhos para o crescimento na carreira.
O que deve ser feito:
* Critérios de qualidade no planejamento das tarefas;
* Padronização no atendimento;
* Foco no usuário;
* Simplificação de obrigações de natureza burocrática;
* Adoção de medidas para avaliação do desempenho;
* Delegar funções de acordo com a competência;
* Rodízio de trabalhadores que exigem contato com o público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário