Diligência no Baixo Meretrício
- Levi Herberth *
Quando o oficial de justiça, Jobel, se deparou com um mandado em que a executada tinha domicílio no baixo meretrício, ele cismou.
Um dos principais points da Ribeira Velha de Guerra sempre foi a Rua 15 de Novembro (outrora bastante freqüentada pela juventude e velhitude potiguar) e, para lá, ele se dirigiu para levar a bom termo as determinações do juiz federal do feito.
O endereço indicado no mandado batia com o do cabaré que Jobel estava postado em frente. Era ali - pensou. Bateu palmas. Uma voz fanhosamente sexy do interior do estabelecimento o convidou:
- Meu filho, entre!
Ele tomou fôlego e adentrou naquele recinto de paredes providencialmente umedecidas. Uma senhora de meia-idade, obesa e maltratada pelos ossos de seu ofício, sentada na beira de seu instrumento de trabalho, pintando as unhas dos pés com as pernas formando um ângulo de 90 graus, indagou ao nosso herói:
- O que tu quer, meu coração?
- Procuro Dona Bela. Tenho em mãos um mandado em que o juiz federal determina penhora nos seus bens. Ele retrucou.
- Ah, meu querido, Dona Belinha tá no céu há muitos anos. Mas... Topa fazer um menino prá você não perder a viagem?
Jobel ainda pensou em informar que tinha competência legal apenas para citar e não excitar pessoas. Preferiu girar nos calcanhares e mais que ligeiro comprovar se realmente Dona Bela tinha passado dessa para melhor.
* Levi Herberth, Oficial de Justiça da 6ª Vara Federal
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