terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Oficiais de Justiça, policiais e bombeiros retiraram ontem famílias de área do estado - Fonte A Cidade

Famílias são retiradas de área do Estado

Justiça e Polícia Militar começaram nesta segunda-feira a despejar ocupantes da Fazenda Santa Maria, em São Simão

Jacqueline Pioli

Foto: F.L.Piton / A Cidade

Oficiais de Justiça, policiais e bombeiros retiraram ontem famílias que não estão cadastradas pelo Estado; moradores reclamam de ter de deixar criação de animais e hortas para morar em favelas

Uma operação conjunta da Justiça e Polícia começou nesta segunda-feira (12) a fazer a retirada de 36 famílias da Fazenda Santa Maria, em São Simão. A maioria irá para as favelas de Ribeirão Preto.

A operação de reintegração de posse teve início às 5h e continua nesta terça-feira. No primeiro dia, cerca de 20 famílias foram despejadas. O trabalho conta com a participação de 76 homens da Polícia Militar e Ambiental, além dos Bombeiros.

Todos os pertences são colocados em um caminhão e levados para onde a família deseja. Segundo o major Mango da Polícia Militar de Ribeirão Preto, a operação foi pacífica. "Eles não têm como brigar mais. Eles sabem que não estão cadastrados", afirma o major.

De acordo com o Oficial de Justiça Valter Augusto Bevilacqua, há 16 anos o Estado pleiteia a área. A Fazenda Santa Maria tem um total de 2.743 hectares. Cerca de 40% dessa área foi delimitada pela Fundação Instituto de Terras (Itesp) para o assentamento de 103 famílias que foram cadastradas. As que foram retiradas, estão na área restante, que voltará ao Estado. "A ordem é tirar todos os pertences e destruir todas as casas e barracos", afirma.

Sebastião José Romão, 41 anos, mora há três anos no local com a esposa, os dois filhos, de 10 e 12 anos e o sogro de 86 anos. "Quem vai saber pra onde a gente vai?" Segundo o agricultor, a polícia não deu tempo para que eles retirassem os pertences. "As coisas não são simples. Pra onde vou levar meus porcos, galinhas e vacas?"

A situação de Cleidison dos Santos de Almeida, 36 anos, é diferente. Ele mora há 15 anos no assentamento e está na lista dos cadastrados. "Mas eu não concordo com essa operação. O povo já plantou na terra e cria animais", opina.

Área vai receber espécies nativas

A Secretaria do Estado de Meio Ambiente afirmou que a área que estava ocupada pelas famílias foi desmatada. No local será feita uma estação ecológica para espécies nativas. "Optamos por transformá-la em área protegida", explica a secretaria.

O Estado também afirma que foram 16 anos de negociação com os ocupantes da área. As 130 famílias que foram cadastradas receberam 705 hectares (uma média de 5 hectares por assentado).

Segundo a secretaria, um grupo de trabalho deve desenvolver um projeto para o estabelecimento de atividade de agricultura, silvicultura e presença de animais de pequeno porte, tipo cabrito, carneiro no local. A atividade será desenvolvida com outras instituições e até com cooperativas.

Famílias vão para favelas

A maioria das famílias que estão sendo despejadas das áreas ocupadas em São Simão deve se mudar para favelas em Ribeirão Preto. É o caso de Andrian Joel, de 36 anos. "Vou tentar alugar uma casa na favela do Jandaia. Mas tenho pimentão, abobrinha, melão, tudo nascendo. Vou perder tudo", afirma.

Andrian vive com a esposa e mais dois filhos, a menina de 15 anos e um menino de 11. Segundo ele, a operação de reintegração de posse é humilhante para os assentados. As famílias receberam o comunicado sobre a operação na última quinta-feira.

Outra ex-moradora do assentamento, que não quis se identificar, também voltará para Ribeirão. "Tenho conhecidos na favela do SBT. Mas não queria sair daqui. Saí da favela para me recuperar da depressão. Sarei e agora terei que voltar", lamenta.

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