sábado, 9 de outubro de 2010

Sorria, você está no Google Street View! Histórias e a repercussão de quem foi fotografado pelo serviço - Fonte DNT





Sorria, você está no Google Street View! Histórias e a repercussão de quem foi fotografado pelo serviço


Se um carro com uma parafernália de câmeras passou por você no último ano, acredite: seus 15 minutos de fama estão próximos. Depois do lançamento de algumas capitais brasileiras (dentre elas a mineira) no Google Street View, as descobertas de suas próprias imagens, no site, pelos belorizontinos estão “pipocando” e há quem adore esta novidade.


É o caso do veterinário Bruno Galli, que define a ferramenta como fantástica e se entusiasmou ao se achar no site: “Saí e virei fã do Google”, brinca. Um amigo de Bruno, que atualmente mora no Rio de Janeiro, postou numa rede social fotos da antiga casa dele em Minas. Todas tiradas pelo Street View. Depois disso, Galli se lembrou que o carro da empresa também havia passado por ele.


O veterinário resolveu então se procurar pelo mapa e levou um susto quando realmente achou a imagem. “Há um tempo, num domingo de manhã, um Doblô vermelho, parecendo um ‘carro espacial’, passou na rua a uma velocidade muito baixa, a uns 40km/h. Eu estava sozinho na rua sentado na calçada. Ainda me lembro de me questionar: o que o Google está fazendo aqui?”, recorda.


Bruno não se incomodou em aparecer na web e, se questionado sobre a polêmica da privacidade, afirma: “Mesmo se estivesse em uma situação constrangedora, não é culpa do Google. Não posso responsabilizá-lo pelos meus atos. Estou na rua”. Em defesa do Street View, ele enumera as vantagens da ferramenta: “Dá para mostrar aos amigos seu local de trabalho, sua casa e outros pontos de referência que só com o mapa não é possível”, diz.




O universitário Lucas Durães (acima)foi surpreendido quando estava com amigos e um professor numa lanchonete na Savassi
Quem também destaca essa qualidade do site é o empresário Tiago Cussiol. “No mapa, as pessoas têm dificuldade de entender o caminho”, explica. Ele foi outro belo-horizontino flagrado pelo Street View e gostou tanto que espalhou o link da imagem no Twitter.


Teve mineiro até que foi flagrado longe de casa, no estado fluminense, durante as férias no início do ano. Romulo Avelar, gestor cultural, saía com um amigo da estação de metrô de Ipanema, no Rio de Janeiro, quando viu o carro passando. As fotos mostram seu olhar seguindo o veículo nada discreto. “Olha o carro do Google Street View!”, sugere ele, como legenda da foto. Segundo o gestor, a imagem não o perturbou em nada, mesmo porque esfumaçaram o seu rosto para evitar a identificação.


SEM CHANCE DE PROTEÇÃO


Já Lucas Durães, estudante de arquitetura que também foi clicado pelo veículo, pondera a atuação da companhia. “Não cheguei a me incomodar com a foto, porque foi tirada numa situação cotidiana. Mas é um pouco de falta de privacidade. Tem a questão do uso de imagem e, neste caso, não pedem autorização para ninguém. Além disso, não vi nenhuma identificação do Google no veículo, para dar oportunidade de quem não quer aparecer na rede de se proteger”, ressalva.


O universitário foi surpreendido pela passagem do carro quando estava com amigos e um professor numa lanchonete. Na época, estava no 3º período, hoje já cursa o 6º. Apesar da inconveniência, o estudante considera os benefícios que o site pode trazer, principalmente, para um curso de arquitetura.


“Tinha uma professora que dava aulas de urbanismo. Ela falava do Street View em outros países e dizia que isso ainda iria mudar o mundo, que era um passo importante. Uma visão meio apocalíptica… O site iria me ajudar muito com a matéria dela”, conta Lucas.


Houve também quem foi “clicado” e ainda não ficou sabendo. Juliana Baeta, estudante de jornalismo, revela que achou a foto de sua mãe e uma amiga pelo Google Maps. Mas, como elas não acessam muito a web, preferiu não comentar a novidade.


Privacidade em jogo


Placas de carros e rostos borrados e retirada do conteúdo do ar após a reclamação do usuário não eximem o Google da responsabilidade, caso a exposição no Street View fira a privacidade de alguém. Essa é a opinião dos especialistas com os quais o Informática conversou sobre o assunto. “Tratar as fotos para embaçar os rostos poderia resolver talvez só a questão da imagem do fotografado. O problema pode ser maior do que isso”, diz Alexandre Atheniense, advogado especializado em direito tecnológico.


Para o professor da Faculdade de Direito da UFMG Brunello Souza Stancioli, a questão começa no trabalho de captura das fotos: “As pessoas não são informadas de que suas imagens estão sendo captadas naquele momento. Já começa pelo não consentimento”. O professor lembra o barulho causado nos EUA e Europa e aguarda, curioso, a repercussão no Brasil, embora seja um fã confesso do Google.


“A privacidade não tem só a ver com o lugar em que a pessoa está, se é um lugar privado ou público. Porque posso estar em um local público, como as ruas, e querer ter controle sobre as minhas informações – aonde vou, por exemplo”, diz Stancioli. Atheniense completa: “Uma foto da casa da pessoa ou de alguém em um ambiente que seja inerente aos hábitos privados dela pode revelar questões de esfera íntima, por mais que esteja vulnerável a ser descortinada no espaço público”.


A questão é a transposição para a internet. “Quando você congela esse mundo real e coloca no virtual, dá acesso, em potencial, a toda a humanidade. E é possível congelar situações que hiperexponham as pessoas. Para uma rede de conhecidos, mesmo com rosto embaçado, é fácil reconhecer, por exemplo, um amigo saindo do motel.”


Além disso, depois de publicado, o estrago está feito. Retirar o conteúdo do ar, horas depois, não livra a barra do Google, de acordo com os especialistas. O conselho de Stancioli, antes de o usuário reportar a denúncia, é fazer um print-screen da imagem, para se resguardar juridicamente, caso haja necessidade de processar a empresa. (Colaborou Shirley Pacelli)

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